
Um quadro desesperador no meio da tempestade, ao final da tarde, inicio da noite, muita chuva com pingos grossos, que doía a face daquele que não conseguia se abrigar, ali na frente, de joelho ao chão, um irmão clamava misericórdia, acabando por cair e vir a desencarnação.
Depois dessa cena, seu corpo ficou inerte ao chão, coberto pela chuva que caia, sem que ninguém por ali passasse, para dar a devida atenção.
Já fora do corpo, tal senhor se viu confuso, pois para ele a sua existência era única, sem crença fundamentada na vida após a morte.
Olhou para os lados, gritou, chorou e entrou em uma confusão maior, quando tentava fazer mexer seu corpo que no chão parecia se desfazer.
Cansado de tentar, começou a caminhar, sem se importar com a chuva, pois seu desespero era maior do que qualquer outra situação.
Como era imaturo no processo da morte, deixou o medo tomar conta de sua alma, adentrando vários lugares, tentando conversar e não obtendo nenhuma resposta.
Depois de algum tempo nessa situação, notou que alguém o chamava, o que não deu muita atenção, pois se acostumou a viver no silêncio da perturbação que encontrava, longe do corpo gelado que deixou longe dali.
A jovem senhorita continuou a chamá-lo, o que o fez virar na direção da voz de onde parecia vir.
Ele procurou e nada encontrou, chegando à conclusão que estava delirando diante da situação.
Perambulou pelas ruas, divagando seus pensamentos ao vento, analisando e procurando uma resposta para o sentindo da vida, pois não seria justo morrer e dessa forma perecer.
Teve vontade de voltar ao local onde deixara seu corpo inerte ao chão, o que em questão de segundos a cena se fez na sua frente, mas dessa vez o corpo ali não estava, deixando muito mais perturbado, pois agora tinha dúvidas do ocorrido.
Subiu a colina que, naquela sua recordação, chovia, indo de encontro ao mar raivoso, pois as ondas estavam grossas, avisando que uma tempestade iria chegar.
Dito e feito, ali ficou e a tempestade chegou, lavando a sua alma, sentindo o frescor dos pingos, fazendo perceber que existia algo além dos seus pequenos olhos, que ainda não conseguia enxergar.
Neste momento ele lembrou daquele Deus que tanto sua mãe falava, quando ainda era pequeno, pedindo a Sua Misericórdia para poder compreender este novo estado que ele adentrara.
Ocorre que uma mão apoiou seu ombro, fazendo estremecer, pois já fazia muito tempo que nenhum contato tinha, chegando a se sentir isolado do mundo, como se não existisse mais nenhum ser, além dele.
Olhou primeiramente para a mão, reconhecendo como sendo feminina, pela meiguice dos detalhes que apresentava, o que o fez virar rapidamente, se deparando com uma mulher que resplandecia luz, fazendo ofuscar a visão de qualquer irmão.
Diante da beleza que se apresentava, de joelhos caiu, agradecendo a Deus por tê-lo atendido, pela sua misericórdia.
Essa mulher pediu para que ele olhasse para o mar e qual não foi a surpresa, pois a tempestade se fora, o sol resplandecia, o mar estava calmo demonstrando que a serenidade de um bom coração muda a ferocidade da situação.
Agora, diante da compreensão, percebeu a sua verdadeira realidade, estava preso nos últimos detalhes da sua vida, faltando apenas a coragem de aceitar a mudança e continuar a seguir a sua jornada, pois a vida é uma continuação da outra vida, bastando apenas a aceitação em seguir, sem ficar preso em algo que não se pode mudar, pois isso é um atraso na evolução.
O Criador fala de várias formas, até mesmo pelas gotas da chuva que bate no rosto, brindando a vida com alegria, sem esmorecer, mas sempre crescer.
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